Por que a dívida pública americana não desempenha mais seu papel de valor-refúgio!

Enquanto a incerteza econômica e institucional nos Estados Unidos atinge níveis recordes, um fenômeno surpreendente ocorre nos mercados financeiros: a dívida pública americana, tradicionalmente considerada o ativo sem risco por excelência, parece não estar mais desempenhando seu papel de valor-refúgio.

De fato, apesar do aumento significativo da incerteza econômica, as taxas de juros da dívida americana, por outro lado, aumentaram recentemente, refletindo uma diminuição na demanda por esse ativo, que é conhecido por sua segurança. Uma situação paradoxal, que levanta muitas questões.

Três principais explicações são apresentadas para entender esse fenômeno inédito.

Primeiramente, a perda de qualidade institucional e a falta de confiança no governo americano parecem desempenhar um papel crucial. As perturbações geopolíticas e a imprevisibilidade da administração Trump prejudicaram a credibilidade dos Estados Unidos e, consequentemente, a de sua dívida. Aliados e adversários estão hoje menos inclinados a comprar a dívida americana, ou até mesmo tentam se desfazer dela.

Em seguida, a expectativa de uma redução dos déficits comerciais americanos, desejada pelo presidente Trump, também pode explicar esse comportamento. De fato, se os Estados Unidos conseguirem reduzir seus déficits comerciais, isso implicaria mecanicamente uma diminuição das entradas de capitais estrangeiros. Essa perspectiva desestimularia os investidores e, portanto, reduziria a demanda pela dívida pública americana.

Por fim, a vontade manifestada de Trump de desvalorizar o dólar, com o objetivo de atenuar os efeitos negativos de sua guerra comercial, também parece desempenhar um papel. Essa estratégia, que visa desencorajar investidores estrangeiros, contribui também para a diminuição da demanda pela dívida americana.

Assim, a perda de confiança no governo americano, as expectativas relacionadas à política comercial de Trump e sua vontade de desvalorizar o dólar levaram a uma diminuição da demanda pela dívida pública americana, resultando em um aumento de suas taxas de juros. Um fenômeno paradoxal que questiona o status de valor-refúgio tradicionalmente associado à dívida americana.

Diante dessa situação inédita, muitas interrogações permanecem sobre o futuro do dólar e da dívida pública dos Estados Unidos como ativos de reserva globais. A capacidade do governo americano de recuperar a confiança dos investidores será determinante para a evolução dessas questões cruciais para a economia mundial.

Por Gérôme Jean Alain Walch
Presidente Brazil Partner Group